31/01/2013

Terrorismo com "Face Humana": A História dos Esquadrões da Morte dos EUA

por Michel Chessudovsky



O recrutamento de esquadrões da morte, faz parte de uma agenda de inteligência militar bem estabelecida nos Estados Unidos. Há uma longa e atroz história de financiamento e apoio, dissimulado, às brigadas de terror e aos assassinatos seletivos, que vêm do tempo da guerra do Vietnã.

Enquanto forças governamentais sírias, ainda hoje estão confrontando o autoproclamado “Exército Livre da Síria” –FSA, as raízes históricas da guerra encoberta do Ocidente contra a Síria - guerra essa que já resultou em inúmeras atrocidades - devem ser totalmente reveladas. 

Desde o começo, em março de 2011, os Estados Unidos e seus aliados tem apoiado a formação de esquadrões da morte, assim como a invasão do território da Síria por brigadas terroristas em uma iniciativa cuidadosamente planificada.

O recrutamento e o treino de brigadas terroristas tanto no Iraque quanto na Síria, foram modelados na denominada “Opção Salvador”, um "modelo terrorista" para assassinatos em massa efetuados por esquadrões da morte patrocinados pelos EUA na América Central. Foi aplicado pela primeira vez em El Salvador, no apogeu da resistência contra a ditadura militar, que levou ao que se estima foram 75.000 mortes.

A formação de esquadrões da morte na Síria se baseia na história e experiência de brigadas terroristas patrocinadas pelos EUA no Iraque, sob o programa de "contrainsurgência" do Pentágono.

O estabelecimento dos Esquadrões da Morte no Iraque

Os esquadrões da morte patrocinados pelos Estados Unidos foram recrutados no Iraque em 2004-2005 numa iniciativa lançada sob a direção do embaixador americano John Negroponte, que foi mandado para Bagdá pelo Departamento do Estado Americano, em junho de 2004.

Negroponte era o homem certo para o trabalho, uma vez que tinha sido embaixador para Honduras de 1981 a 1985. Negroponte fez um papel central em apoiar e em supervisionar os Contras de Nicarágua, que estavam baseados em Honduras. Ao mesmo tempo ele também supervisionava as atividades dos esquadrões da morte militares de Honduras.

“No governo do general Gustavo Alvarez Martinez, o governo militar de Honduras era um aliado íntimo da administração de Reagan e “fazia desaparecer” dezenas de opositores políticos mediante métodos clássicos dos esquadrões da morte.”

Em janeiro de 2005, o Pentágono confirmou que estava considerando: 

"'Formar esquadrões de assassinos de combatentes xiitas e curdos para atacar líderes da resistência iraquiana em uma mudança estratégica vinda da experiência da luta contra as guerrilhas de esquerda da América Central, há 20 anos atrás'.

Sob a denominada “Opção El Salvador” forças iraquianas e americanas deveriam ser mandadas a matar ou sequestrar líderes da insurreição, mesmo na Síria, onde alguns dos insurgentes teriam tido então abrigo.

Esquadrões de ataque sendo controversos, deveriam provavelmente ter de ser mantidos secretos.

A experiência dos 'esquadrões da morte' na América Central continua a ser uma experiência brutal para muitos, e ainda continuam contribuindo para sujar a imagem dos Estados Unidos na região.

Tem se ainda que a administração de Reagan deu fundos e treinou times de forças nacionalistas para neutralizar os líderes rebeldes salvadorenhos, assim também como os que com eles simpatizavam.

John Negroponte, o embaixador americano em Bagdá, tinha um lugar privilegiado de observação dado o seu tempo como embaixador em Honduras de 1981-85.

Esquadrões da morte era uma parte brutal da política latino-americana de então...

No começo dos anos oitenta a administração de Reagan deu fundos e treino aos Contras de Nicarágua baseados em Honduras, com o objetivo de derrubar o regime sandinista de Nicarágua Os Contras foram equipados com o dinheiro obtido pela venda americana, ilegal, de armas ao Irã. Esse foi um escândalo que poderia ter derrubado Reagan do poder.

O impulso da proposta do Pentágono no Iraque... era o de seguir esse modelo...

Não ficou claro se o objetivo principal da missão seria o de matar os rebeldes ou sequestrá-los para levá-los a interrogatórios, no Iraque. Qualquer missão na Síria seria provavelmente feita pelas Forças Especiais dos Estados Unidos.

Também não ficou claro quem iria ter a responsabilidade pelo programa, se o Pentágono ou a Agência Central de Inteligência, ou seja, a CIA. Essas operações feitas abaixo de panos – encobertas, tem tradicionalmente sido feitas pela CIA, a um braço de distância da administração em poder, dando aos oficiais americanos a possibilidade de negar conhecimento da situação". (El Salvador-style “death squads” to be deployed by US against Iraq militants – Times Online, January 10, 2005)

Enquanto o objetivo especificado da “Opção Salvadorenha para o Iraque” seria a de acabar com a resistência, na prática as brigadas terroristas patrocinadas pelos Estados Unidos se envolveram em matanças rotineiras de civis, tendo em visto o atiçar uma violência sectária.

Por seu turno, a CIA assim como a MI6 estavam superintendendo unidades da “Al Qaeda no Iraque” envolvidas em assassinados de alvos demarcados e dirigidos contra a população Shiite. É importante de se ressaltar que os esquadrões da morte foram integrados assim como aconselhados, encoberta e dissimuladamente, pelas Forças Especiais dos Estados Unidos.

Robert Stephen Ford – ..Depois apontado como embaixador dos Estados Unidos na Síria, fazia parte do time de Negroponte em Bagdá, durante o período de 2004-2005. Em janeiro 2004 ele foi mandado como representante americano para a cidade Shiite de Najaf, que era um foco forte do exército “Mahdi, com o qual ele fez contatos preliminares.

Em janeiro de 2005, Robert S. Ford foi apontado como Ministro Conselheiro para Assuntos Políticos – Minister Counsellor for Political Affairs- na Embaixada dos Estados Unidos, abaixo da direção do embaixador John Negopronte. Ele não somente fazia parte do círculo mais próximo e fechado de Negroponte. Ele era também o associado dele no estabelecimento da “Opção Salvadorenha” no Iraque. O terreno já tinha então sido preparado em Najaf, antes da transferência de Ford a Bagdá.

John Negroponte e Robert Stephen Ford foram encarregados de recrutar os esquadrões da morte iraquianos. Enquanto Negroponte coordenava as operações a partir de seu gabinete na Embaixada dos Estados Unidos, Robert S. Ford que falava fluentemente tanto árabe como a língua turca, teve a incumbência de estabelecer contatos estratégicos com os grupos militantes Shiite e Curdos, fora da “Zona Verde”-“Green Zone”.

Dois outros oficiais da embaixada, nomeadamente Henry Ensher – auxiliar ou deputado de Ford, assim como um oficial mais jovem da secção política, Jeffrey Beals, tiveram um papel importante no time que então “falava com alguns segmentos iraquianos, incluindo extremistas”. (Veja The New Yorker, March 26, 2007). Uma outra pessoa-chave no time de Negroponte era James Franklin Jeffrey, embaixador dos Estados Unidos, na Albânia 2002-2004. Jeffrey veio a tornar-se embaixador dos Estados Unidos para o Iraque, entre 2010-2012.

Negroponte também trouxe para dentro do time um de seus antigos colaboradores, o Coronel James Steele, retirado dos seus dias de apogeu em Honduras.

Durante a “Opção El Salvador” no Iraque, Negroponte foi assistido por um colega dos anos oitenta, ou seja, dos seus dias na América Central. Esse colega de Negroponte no Iraque era então o aposentado Coronel James Steele.

Steele, que recebeu em Bagdá o título de Conselheiro das Forças de Segurança Iraquianas -Counselor for Iraqi Security Forces- supervisionou a seleção e o treino dos membros da Organização Badr e do Exército Mahdi, as duas maiores milícias Shiitas, no Iraque. Isso com a intenção de fazer de alvo a direção e a rede de apoio da resistência, primordialmente Sunni, do Iraque. Tenha sido planejado, ou não, esses esquadrões da morte logo ficaram fora de controle e se tornariam na causa de morte número 1, no Iraque.

Se foi a intenção original ou não, o número de corpos torturados e mutilados surgindo nas ruas de Bagdá todos os dias foram obras dos esquadrões da morte, que por sua vez eram impulsionados por John Negroponte. E, foi a violência sectária apoiada pelos Estados Unidos que levou em muito grande parte ao infernal desastre que é o Iraque de hoje. (Dahr Jamail, Managing Escalation: Negroponte and Bush´s New Iraq Team. Antiwar.com, January 7, 2007)

De acordo com o Republicano Dennis Kucinich o coronel Steele era o responsável, pela implementação do plano em El Salvador, onde dezenas de milhares salvadorenhos “desapareceram” ou foram assassinados, inclusive então também o Arquebispo Oscar Romero, assim também como quatro freiras americanas.

Logo do seu apontamento para Bagdá, o Coronel Steele foi encaminhado para a unidade de contrainsurreição, unidade essa conhecida como o Comando Policial Especial- “Special Police Commando”, abaixo do Ministério do Interior do Iraque. (Veja ACN, Havana, 14 de junho 2006).

Relatórios confirmam que “os militares americanos entregaram muitos prisioneiros para a Wolf Brigade – o temido 2º batalhão dos comandos especiais do ministério do interior” , que então estavam abaixo do comando do Coronel Steele. Os prisioneiros foram entregados para “interrogatórios adicionais”. . Peter Mass do New York Times confirma que:

“US soldados, conselheiros dos EUA, estavam em posição observando, sem fazer nada,” enquanto membros da “Wolf Brigade” batiam, assim como torturavam os prisioneiros. Os comandos do Ministério do Interior do Iraque teriam então também tomado a biblioteca pública de Samara para a transformar num centro de detenção.

Uma entrevista conduzida por Mass em 2005 nesse local transformado em prisão e em companhia do conselheiro militar americano da “Wolf Brigade”, o coronel James Steele, foi interrompida pelos gritos aterrorizados de um prisioneiro fora do local, disse ele. Steele como consta do protocolo foi empregado anteriormente como conselheiro para ajudar a esmagar a resistência em El Salvador.” (Ibid)

Um outro elemento notório que teve um papel no programa da contrainsurreição no Iraque foi o ex-Comissionário da Polícia de Nova Iorque, Bernie Kerik que em 2007 foi indicado em corte federal por 16 acusações judiciais.

Kerik foi o enviado pela administração de Bush, no começo da ocupação do Iraque, para organizar e treinar a força policial do Iraque. Durante o seu curto termo em 2003, Kerik –que preencheu o posto de interim Ministro do Interior- trabalhou para organizar unidades de terror dentro da Força Policial do Iraque: mandado para o Iraque para por as forças de segurança iraquiana em forma, Kerik usava a denominação “ministro interim do interior do Iraque”. Entretanto, conselheiros policiais britânicos o chamavam de o “exterminador de Bagdá”. (Salon, 9 de dezembro de 2004)



Abaixo da direção de Negroponte, da Embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, uma onda de assassinatos encobertos de civis, assim também como assassinatos de pessoas entendidas como alvos, foi deslanchada. Engenheiros, médicos, cientistas e intelectuais foram alvos. O autor e analista geopolítico Max Fuller, documentou em detalhe as atrocidades cometidas abaixo do programa de contrainsurreição patrocinado pelos Estados Unidos.

O aparecer dos esquadrões da morte entraram primeiramente em foco em maio de 2005 quando foi reportado que...dezenas de corpos tinham sido depositados...em terrenos baldios ao redor de Bagdá. Todas as vítimas tinham as mãos presas em algemas, estavam com os olhos vedados e tinham sido baleadas na cabeça. Muitos deles mostravam sinais de terem sido brutalmente torturados...

A evidência foi suficiente para motivar a Associação de Acadêmicos Muçulmanos –Association of Muslim Scholars, AMS, uma conhecida e importante organização Sunnita a fazer declarações públicas na qual acusavam as forças de segurança ligadas ao Ministério do Interior, assim como a Badr Brigade, a ex-ala armada do Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque –Supreme Council for Islamic Revolution in Iraq, SCIRI, por estar por detrás dessas mortes. Eles também acusaram o Ministério do Interior de estar conduzindo terrorismo de estado (Financial Times).

Os Comandos Policiais assim como a “Wolf Brigade” eram supervisionadas pelo “programa de contrainsurreição”, no Ministério do Interior do Iraque.

Os Comandos Policiais eram formados abaixo da experiência, tutelagem e supervisão de combatentes americanos, veteranos de contrainsurreição. Os comandos policiais iraquianos então, desde o começo conduzindo operações conjuntas com as unidades de forças de elite, altamente secretas.(Reuters, National Review Online).

...James Steele foi uma figura chave no desenvolver dos Comandos Especiais da Polícia - Special Police Comandos do Iraque. Ele foi um operativo das forças especiais do Exército dos Estados Unidos, que tendo começado no Vietnã foi depois mandado para dirigir a missão militar dos Estados Unidos em El Salvador, no auge da guerra civil, no país...

Outro contribuinte no desenvolver dos Comandos Especiais da Polícia, no Iraque, foi o mesmo Steven Casteel que como o mais experiente conselheiro dos Estados Unidos no Ministério do Interior afastou sem maiores considerações as bem substanciadas acusações de apavorantes violações dos direitos humanos como “rumores e insinuações”.

Assim como Steele, Casteel também ganhou considerável experiência na América Latina, no caso dele através de participar na perseguição do barão da cocaína, Pablo Escobar, nas narco-guerras da Colômbia, nos anos noventa...

O cenário da história pessoal de Casteel é importante nesse caso, porque o tipo de papel de apoio na colheita de informação e na produção de listas de morte, nas quais as suas experiências na América Latina foram baseadas então, são características do envolvimento dos Estados Unidos em programas de contrainsurreição, constituindo um elemento básico no que se poderia perceber como acaso, ou orgias de carnificinas desconexas.

Comentários do Departamento de Defesa dos Estados Unidos em 2005...Esses tipos de genocídios planificados de forma centralizada são consistentes com os acontecimentos no Iraque...Isso é também consistente com o pouco que sabemos a respeito dos Comandos Especiais da Polícia, que foi projetada para prover o Ministério do Interior com uma força de capacidade de ataque especial. (Departamento de Defesa dos Estados Unidos).

Max Fuller comentou, no contexto, que em mantendo esse papel os quartéis de Comando da Polícia tinham se tornado no centro de um comando nacional de controle, comunicação, informática e inteligência – Cortesia dos Estados Unidos. (Max Fuller, op cit).

Essa inicial preparação de terreno, estabelecida abaixo da direção de Negroponte, em 2005, permitiu a implementação das atividades abaixo de seu sucessor, o embaixador Zalmay Khalilzad. Robert Stephen Ford garantiu a continuidade do projeto antes do seu apontamento como embaixador dos Estados Unidos na Argélia em 2006, assim também como depois do seu retorno a Bagdá, como Chefe Deputado da Missão – Deputy Chief of Mission, em 2008.

Operação "Contras Sírios": Aprendendo com a Experiência Iraquiana



A macabra versão iraquiana da “Opção El Salvador” abaixo da direção do embaixador John Negroponte serviu como modelo para a construção dos Contras do “Exército Livre da Síria”. Robert Stephen Ford esteve muito provavelmente envolvido na implementação do projeto dos Contras na Síria, depois do seu apontamento como Chefe Deputado da Missão –Deputy Head of Mission em Bagdá, 2008.

Na Síria o objectivo era o de criar divisões faccionais entre as comunidades Sunnitas, Shiitas, Curdas e Cristãs. Conquanto o contexto da Síria seja completamente diferente da do contexto do Iraque, existem também surpreendentes similaridades ao que diz respeito aos procedimentos pelos quais as atrocidades e matanças foram, e continuam sendo conduzidas.

Uma reportagem publicada pelo Der Spiegel em relação as atrocidades cometidas na cidade síria de Homs confirma um processo sectário de assassinatos em massa e mortes extrajudiciais, ou seja assassinatos, comparáveis as conduzidas pelos esquadrões da morte no Iraque, esquadrões patrocinados pelos Estados Unidos.

As pessoas em Homs eram de forma rotineira categorizadas como “prisioneiros” (Shia, Alawita) e “traidores”. Os traidores eram os civis Sunnitas, dentro da área urbana ocupada pelos rebeldes, que expressavam discordância ou oposição ao reino de terror do Exército Livre da Síria -“Free Syrian Army” –FSA:

“Desde o último verão [2011], nós executamos pouco menos que 150 homens, o que representa cerca de 20% dos nossos prisioneiros,” disse Abu Rami.... Mas os executores de Homs estiveram mais ocupados com traidores dentro de suas próprias falanges do que com prisioneiros de guerra. “Se pegamos um Sunnita espionando, ou se um cidadão trai a revolução, fazemos o processo curto, disse o combatente. De acordo com Abu Rami, “Hussein´s burial brigade” teria posto entre 200 a 250 traidores a morte, desde o começo da sublevação.” (Der Spiegel, March 30, 2012)

Preparações ativas para a operação síria teriam certamente sido iniciadas quando da chamada de Ford da Argélia, nos meados de 2008 para um novo apontamento na embaixada dos Estados Unidos no Iraque.

O processo exigia um programa inicial de recrutamento e treino de mercenários. Esquadrões da morte, incluindo unidades Salafistas do Líbano e da Jordânia entraram pela fronteira sul da Síria -com a Jordânia, nos meados de março de 2011. Muito da preparação do terreno estava já pronta antes da chegada de Robert Stephen Ford a Damasco, em janeiro de 2011.

O apontamento de Ford como embaixador da Síria foi anunciado no começo de 2010. As relações diplomáticas estiveram cortadas desde 2005 após o assassinato de Rafik Hariri, do qual os Estados Unidos acusaram a Síria. Ford chegou em Damasco apenas dois meses antes do começo da insurreição.


O Exército Livre Da Síria - FSA

Washington e seus aliados replicaram na Síria as características essenciais da “Opção El Salvador –do Iraque”, levando a criação do Exército Livre da Síria -FSA- e as suas várias facções incluindo a brigada “Al Nusra”, afiliada a Al Qaeda.

Apesar da criação do Exército Livre da Síria –FSA ter sido anunciada em junho de 2011, o recrutamento e treino dos mercenários, vindos de fora do país, foram iniciados muito anteriormente.

Em muitos aspectos, o Exército Livre da Síria é uma cortina de fumaça, usada para enublar e desvanecer os contornos da realidade. O denominado Exército Livre da Síria é apresentado pela mídia ocidental como uma entidade de boa fé, estabelecida como resultado de defecções em massa das forças governamentais. O número das defecções no entanto, não foram nem significantes, nem suficientes para estabelecer uma estrutura militar coerente, com os devidos comandos e controles de função.

O Exército Livre da Síria não é uma entidade militar profissional, é mais uma rede não estruturada, constituída por diversas brigadas terroristas, as quais por seu turno, são constituídas por muitas células paramilitares, agindo em diversas partes do país.

Cada uma dessas organizações opera independentemente. O Exército Livre da Síria- FSA, não exerce funções de controle ou comando efetivos e isso inclui também não efetividade nas suas ligações e contatos com as entidades paramilitares. Essas entidades paramilitares estão em sua grande parte controladas pelas forças especiais, assim como profissionais da inteligência, patrocinados pelos EUA-OTAN. Tanto as forças especiais como os profissionais da inteligência são encaixados, ou incrustados, nas alas das várias formações terroristas.

Essas forças especiais “no solo” – muitas das quais contratadas de companhias particulares de segurança, estão de forma rotineira, em contacto com EUA-OTAN, assim também como com unidades de comando da inteligência militar dos outros envolvidos. As Forças Especiais estão, muito provavelmente, também envolvidas nos ataques devastadores, muito cuidadosamente planejados, dirigidos contra as instalações governamentais, conjuntos militares, e muitos outros objetos centrais e sensíveis.

Os esquadrões da morte são mercenários recrutados e treinados pelos EUA-OTAN, e seus aliados do Golfo Pérsico, GCC. Eles são supervisionados pelas forças especiais aliadas, assim como por companhias particulares de segurança -em contrato com a OTAN e o Pentágono. Relatórios confirmam o emprisionamento pelas forças governamentais da Síria, de cerca de 200-300 contratados de firmas particulares de segurança, contratados esses que estavam integrados nas alas dos rebeldes.

A Frente Jabhat Al Nusra



A Frente Al Nusra -que se entende como afiliada a Al Qaeda- é descrita como o grupo rebelde mais efetivo na luta da oposição. Al Nusra é o grupo responsável por muitos dos maiores –high profile- ataques de bombas. O grupo Al Nusra é apresentado como um inimigo dos Estados Unidos, e está na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado.

Entretanto, as ações da Al Nusra apresentam as características, ou impressões digitais, dos treinos e das tácticas paramilitares dos Estados Unidos. As atrocidades cometidas contra civis pelo grupo Al Nusra são similares a aquelas feitas pelos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA no Iraque.

Nas palavras do líder da Al Nusra, Abu Adnan, in Aleppo:- “Jabhat al-Nusra conta com veteranos sírios da guerra do Iraque entre seus números, homens que trazem perícia – especialmente na construção de dispositivos explosivos (IEDs) para o fronte na Síria.”

Como no Iraque, violência entre facções e limpeza étnica foram ativamente promovidas. Na Síria as comunidades Alawita, Shia e Cristãs foram alvo dos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA-OTAN. A comunidade cristã foi um dos alvos centrais no programa de assassinatos.

Relatórios confirmam o influxo de Salafistas e esquadrões da morte afiliados a Al Qaeda abaixo dos auspícios da Irmandade Muçulmana para dentro da Síria, desde o começo da insurreição, em março 2011.

Ainda mais, reminiscente do alistamento dos Mujahideen para lutar a jihad –guerra santa- da CIA no auge da guerra União Soviética-Afeganistão, guerra essa que a OTAN e a Turquia (the Turkish High command) tinham iniciado...

... “uma campanha para alistar milhares de voluntários Muçulmanos nos países do Oriente Médio e no Mundo Muçulmano para lutar lado a lado com os rebeldes sírios. O Exército turco iria acomodar esses voluntários, treiná-los e assegurar a passagem dos mesmos para dentro da Síria. (DEBKAfile, NATO to give rebels anti-tank-weapons, August 14, 2011).

De acordo com o que foi relatado, companhias particulares de segurança operando dos países do Golfo estão envolvidas em recrutamento e treino de mercenários.

Apesar de não especialmente marcadas para o recrutamento dos mercenários dirigidos contra a Síria, relatórios apontam para uma criação de campos de treinamento em Qatar e no Emirados Árabes Unidos –UAE. Na cidade militar de Zaved –Zaved Military City, UAE, “um exército secreto está sendo construído”, operado por Xe Services, antes denominado Blackwater. O acordo da UAE para estabelecer um campo militar para treino de mercenários foi assinado em julho de 2010, nove meses antes dos furiosos ataques contra a Líbia e a Síria.

Em desenvolvimentos recentes, companhias de segurança em contrato com a OTAN e o Pentágono estiveram envolvidas em treinar os esquadrões da morte no uso de armas químicas.

“Os Estados Unidos e alguns aliados europeus estão usando contratados da defesa para treinar os rebeldes sírios em como assegurar provisões de armas químicas na Síria, um sênior oficial dos Estados Unidos, e diversos diplomatas informaram a CNN, domingo” (CNN Report, December 9, 2012).

Os nomes das companhias envolvidas não foram revelados.


Atrás de portas fechadas no departamento de Estado dos EUA

Robert Stephen Ford fazia parte de um pequeno time no Departamento do Estado Americano que supervisionava o recrutamento e treino de brigadas terroristas, conjuntamente com Derek Chollet e Frederic C. Hof, um ex-associado de negócios de Richard Armitage, que serviu como “coordenador especial” de Washington, em assuntos da “Síria”. Derek Chollet foi recentemente apontado para a posição de “Assistant Secretary of Defense for International Security Affairs” (ISA)- [Secretário Auxiliar da Defesa para Assuntos de Segurança Internacional]

Esse time trabalhou abaixo da direção do ex-Auxiliar Secretário de Estado para Assuntos do Próximo Oriente –Near Eastern Affairs, Jeffrey Feltman.

O time de Feltman estava em próximo contacto com os processos de recrutamento e treino dos mercenários da Turquia, Qatar, Arábia Saudita e Líbia (cortesia do pós-Kaddafi regime, que despachou -600- tropas da “Libya Islamic Fightin Group”-LIFG para a Síria, via Turquia, nos meses a seguir o colapso do governo de Kadafi, em setembro 2011.

O Auxiliar Secretário do Estado, Feltman, esteve em contacto com o Ministro do Exterior Saudita, o Príncipe Saud al Faisal , e o Ministro do Exterior de Qatar, Sheik Hamad bin Jassim. Ele também esteve encarregado do gabinete para “coordenação especial de segurança” relacionado a Síria e baseado em Doha. Esse gabinete incluía representantes das agências de inteligência do ocidente, assim como do GCC e representantes da Líbia. O Príncipe Bandar bin Sultan, a prominente e controverso membro da inteligência Saudita fazia parte desse grupo. (Veja Press TV, May 12, 2012).

Em junho 2012, Jeffrey Feltman foi apontado UN Under-Secretary-General for Political Affairs, uma posição estratégica que, na prática consiste em por a agenda da ONU (em favor de Washington) em assuntos pertencendo a “Resolução de Conflitos” em vários focus de problema ao redor do globo. Isso inclui Somália, Líbano, Líbia, Síria Iêmem e Mali. Numa amarga ironia, os países para a “resolução de conflitos” da ONU são então aqueles mesmos sendo alvos das operações, encobertas, dos Estados Unidos.

29/01/2013

Julius Evola - Nietzsche para Hoje

por Julius Evola


Na Itália parece que um interesse em Friedrich Nietzsche foi revivido. Um sinal óbvio disso é que Adelphi de Milão está publicando uma tradução crítica de todas as suas obras; em segundo lugar, há o aparecimento quase simultâneo de dois livros, Nietzsche por Adriano Romualdi, que contém um ensaio completo sobre esse pensador seguido por uma seleção de passagens de seus escritos, e então a tradução do alemão da excelente obra sistemática, Nietzsche e o Sentido da Vida por Robert Reininger. A abordagem específica do segundo desses livros nos leva a propor essa questão: à parte da importância que Nietzsche tem como filósofo em geral, o que podem significar suas idéias hoje e, mais precisamente, quais de suas idéias ainda mantém qualquer validade?

A relevância desse problema foi trazida à luz por Reininger, ao notar que a figura de Nietzsche também possui a qualidade de um símbolo, e que sua persona incorpora ao mesmo tempo uma causa: "é a causa do homem moderno pelo qual se luta, desse homem sem mais raízes no solo sagrado da tradição, oscilando entre os picos de civilização e os abismos de barbárie, buscando a si mesmo, ou seja, levado a criar para si um sentido satisfatório para uma existência de tudo trazido para si".

É possível especificar ainda mais essa visão relativa ao problema do homem do período do niilismo, do "ponto zero de todos os valores", do período em que "Deus está morto", com base no que Nietzsche fez seu Zaratustra anunciar, e que hoje é notoriamente traduzido de forma comum e quase banal; do homem no período em que todos os suportes externos falham e em que - como nosso filósofo já disse - "o deserto cresce".

Da mesma maneira, se pode dizer que muito do que Nietzsche pode possivelmente fornecer remete ao problema individual puro. Todas as formulações tendo uma possível relação com problemas políticos e coletivos são postos de lado, aqueles para os quais muitos gostariam de ver colusões entre doutrinas nietzscheanas e alguns movimentos políticos passados, especialmente o Nacional-Socialismo hitlerista e que foram também acusados de fomentar o orgulho de uma suposta "Herrenvolk" (ou seja, raça mestra) e a fixação com um racismo biológico pobremente compreendido.

Se um "super-homem" indubitavelmente constitui uma idéia central da totalidade do pensamento nietzscheano, é em termos de um "super-homem positivo", não é aquilo grotesco no estilo de D'Annunzio, nem a "fera loira de rapina" (essa é uma das expressões mais pobres de Nietzsche) e nem mesmo o indivíduo excepcional que encarna um máximo da "vontade de poder", "para além do bem e do mal", porém sem qualquer luz e sem uma sanção superior.

O super-homem positivo, que cabe ao "melhor Nietzsche", deve ao invés ser identificado com o tipo humano que mesmo em um mundo niilista, devastado, absurdo, ímpio sabe como ficar de pé, porque ele é capaz de dar a si mesmo uma lei de si mesmo, segundo uma nova liberdade superior.

Aqui devemos notar a clara linha de demarcação que existe entre Nietzsche enquanto "destruidor", o esmagador de ídolos, e "imoralista" (essa designação que ele costumava reivindicar, mas só para causar sensação: porque seu desdém era tão somente pela "moralidade pequena" e pela "moralidade de rebanho"), e aquela "revolução do nada" [ou seja, 1968], aquele anarquismo de baixo que a profunda crise do mundo moderno está trazendo. É tão significativo, quanto é natural, que Nietzsche seja absolutamente desconhecido pelos assim chamados movimentos de "protesto" de hoje, enquanto ele foi o primeiro e maior dos rebeldes. Não há correspondência no sujeito humano, as verdadeiras afinidades eletivas - ou seja, o plebeu - de tais movimentos é revelado em sua frequente colusão com o marxismo e seus derivados, e com cada gueto social e racial próximo à superfície violenta e destrutiva da camada puramente subpessoal e naturalista do ser.

As palavras do Zaratustra de Nietzsche são atuais e pertinentes, nesse sentido, quando ele pergunta que busca se livrar de todo grilhão: "Você chama a si mesmo de livre, mas isso não me interessa - Eu te pergunto: livre para quê?", lembrando que há casos em que o único valor que se possui são lançados longe junto com o grilhão. Esse é o claro alerta para aqueles hoje que só sabem falar de "repressões" e que se alimentam de uma intolerância histérica por todo tipo de autoridade - e eles alimentam tal intolerância - só por essa razão: porque eles não possuem em si mesmos um princípio superior que comanda.

Agora o tipo nietzscheano, que colocou o "niilismo atrás de si", que, de fato, "sabe como obter um remédio saudável para tal veneno", é o único que possui este princípio, e que portanto também sabe como dar uma lei a si mesmo. Reininger, nesse sentido, está correto ao ver em Nietzsche o afirmador de uma moralidade "absoluta" como a de Kant, e certas conexões poderiam até mesmo ser estabelecidas com a ética estoica antiga, que similarmente defendia uma soberania interior.

Certamente, a multiplicidade de posições dramaticamente mutantes, algumas vezes até contraditórias, entre as quais Nietzsche tentou encontrar o próprio caminho, pode levar rumo a uma direção bem diferente: por exemplo, quando Nietzsche promove a exaltação da "vida" ou quando ele invoca a "fidelidade à Terra". Fidelidade também a si mesmo: ser e querer ser o que se é, às vezes isto é proposto como o único padrão possível e válido no "deserto que cresce". O padrão adequado, ainda que perigoso, conhecido mesmo na antiguidade clássica antes de qualquer "existencialismo".

O problema fundamental, da maior importância para o que hoje o melhor de Nietzsche pode oferecer, envolve esse perigo. Após o que foi dito, nesse ponto, de que se deve ser a própria lei para si mesmo, é uma questão de ver o que o indivíduo encontra em si e aceitar o limite alcançado pelos múltiplos processos de dissolução espiritual que tem agido em tempos recentes: ver se, em si mesmo, se encontra aquele desprezo natural pela vulgaridade e por todo interesse medíocre, aquela vontade por uma disciplina clara, voluntária, aquela habilidade de estabelecer livremente "valores" e de alcançá-los sem desistir a qualquer custo, aqueles valores que em Nietzsche definem o "Superador" (Überwinder), o homem que não é quebrado entre tantas coisas que estão quebradas hoje.

28/01/2013

O Segredo da Eurásia: A Chave para a História Oculta e os Eventos Mundiais

por Mehmet Sabeheddin



"Sob o amplo ondular da história humana fluem as correntes furtivas das sociedades secretas, que frequentemente determinam nas profundezas as mudanças que ocorrem na superfície". - A.E. Waite

Estariam as sociedades secretas e fraternidades ocultas ativas por trás das cenas dos eventos mundiais por milhares de anos? Moldariam esses guardiães de sabedoria secreta o crescimento da consciência humana e influenciariam o destino das nações? Estariam mestres secretos de conhecimento oculto fortalecendo e infiltrando certos movimentos políticos, culturais, espirituais e econômicos, cumprindo um antigo plano? Poderia ser que as maiores reviravoltas, guerras e revoluções humanas, bem como suas descobertas pioneiras na ciência, literatura, filosofia e artes, seriam resultado de uma "mão oculta"? Podemos decodificar a história e encontrar a interface misteriosa entre política e ocultismo, assim desvelando os reais motores de nosso mundo moderno?

O filósofo alemão Oswald Spengler avisou sobre uma "poderosa disputa" enter grupos de homens de "imenso intelecto" a qual o "cidadão comum nem observa nem compreende". Lá em 1930 Ralph Shirley, o editor do Occult Review londrino, o principal diário britânico de ciências esotéricas, endossou "a suspeita de que as fileiras do ocultismo estão secretamente trabalhando para a desintegração e a revolução". Prova positiva na forma de um grupo de ocultistas trabalhando com este objetivo em vistas recentemente veio à atenção do presente escritor".

O major-general Fuller, antigo discípulo de Aleister Crowley, que tinha ligações com a inteligência militar britânica, escreveu sobre uma força insidiosa usando "Magia e Ouro" buscando "alcançar o domínio global sob um Messias vingativo como previsto pelo Talmud e a Qabalah". O antigo chefe de Fuller, Crowley, trabalhou como agente secreto tanto para a Grã-Bretanha como para a Alemanha, ainda que seus contatos britânicos tenham notado sua "pouca confiabilidade" alertando que ele só devia ser usado em operações de espionagem com o maior cuidado. Durante a Primeira Guerra Mundial o Ministério de Relações Exteriores da Alemanha secretamente pediu ao ocultista Gustav Meyrink que escrevesse um livro culpando os maçons da França e da Itália pelo início da guerra.

A Madame Blavatsky acreditava que a sociedade católica dos jesuítas havia transferido seu quartel-general do continente para a Inglaterra onde eles planejavam mergulhar o homem em uma ignorância passiva e instituir "Despotismo Universal". A fundadora da Sociedade Teosófica, uma mulher de intelecto imenso e experiência de primeira mão com sociedades secretas, alertou:

"Estudantes de Ocultismo deveriam saber que enquanto os jesuítas conseguiram através de seus meios fazer com que o mundo em geral, e os ingleses em particular, creia que não há tal coisa como Magia e ria de Magia Negra, esses astutos e furtivos conspiradores eles mesmos sustentam círculos magnéticos e formam correntes magnéticas pela concentração de sua vontade coletiva, e quando eles tem algum objeto especial para afetar ou qualquer pessoa particular e importante para influenciar".

A Revolução Francesa, uma das reviravoltas políticas mais importantes da Europa, foi majoritariamente a obra de lojas maçônicas dedicadas à derrubada da monarquia e a por um fim à religião católica estabelecida. Em Provas de uma Conspiração (1798), John Robinson demonstrou que os clubes políticos e comitês de correspondência durante a revolução, incluindo o famoso Clube Jacobino, nasceu dessas lojas maçônicas.

A influência do misticismo, do oculto e das sociedades secretas sobre a história é geralmente descartada por acadêmicos ocidentais. Historiadores comuns escolhem ignorar este aspecto porque eles acreditam que ele não possui qualquer importância real para a política mundial. Na verdade é somente pelo reconhecimento do papel e influência do "subterrâneo oculto" que importantes eventos globais podem ser plenamente compreendidos e colocados em sua perspectiva histórica real.

Atlantismo versus Eurasianismo

As sociedades secretas e os professores da sabedoria oculta consistentemente traçam suas origens de volta à própria aurora da civilização. Dentro da cultura judaico-cristão, as escolas secretas falam de Adão, Set, Moisés e dos Patriarcas como iniciados de uma sabedoria divina cuidadosamente transmitida de uma geração para a próxima. Outros grupos ocultistas olham para o antigo Egito e para as Escolas de Mistério da Grécia, para o continente perdido de Atlântida. Ainda outros traçam sua linhagem à Suméria ou Babilônia e às misteriosas planícies da Tartária.

Examinando os mitos, lendas e histórias arcanas da humanidade nós encontramos incontáveis referências a uma civilização primordial desaparecida. O brilhante metafísico francês René Guénon escreveu sobre uma grande cultura hiperbórea que floresceu ao redor do Círculo Ártico e seus entrepostos Shambhala no Oriente e Atlântida no Ocidente. Platão escreveu sobre Atlântida, descrevendo-a como o coração de um grande e poderoso império que, devido à mistura indiscriminada dos "filhos dos Deuses" com os "filhos dos homens", sofreu "violentos terremotos e inundações" e "desapareceu sob o mar". Segundo a tradição oculta, Atlântida chegou ao fim após um longo período de caos e desastres trazidos, nas palavras de Madame Blavatsky, porque a "raça atlante se tornou uma nação de magos malignos". Atlântida foi destruída por uma conspiração de magos malignos que havia tomado o controle do poderoso continente.

Muito antes do fim de Atlântida, grandes migrações ocorreram em direção a diferentes centros terrestres. Em uma lenda nos é falado sobre um remanescente justo viajando do Círculo Ártico para Shambhala, na remota vastidão da Ásia Central. Outras lendas sugerem que sobreviventes atlantes estabeleceram a antiga civilização egípcia.

Victoria LePage, autora de um dos mais amplos estudos sobre Shambhala explica como Atlântida e Shambhala são mais do que meros locais geográficos:

"No folclore Atlântida e Shambhala estão implicitamente ligadas como imagens carismáticas do desejo do coração, duas miragens que se situam no horizonte mais longínquo do anseio humano, inalcançáveis, sempre recuando conforme tentamos alcançá-las; na melhor das hipóteses não mais do que estados ideais de consciência jamais realizados. Mas sua associação parece ter uma base bem mais real e historicamente concreta do que isso. A tradição iniciática afirma que ambas genuinamente existiram, uma no mar ocidental, a outra nas montanhas orientais, como eixos centrais do que foi outrora uma rede de centros de sabedoria localizados em uma grande rede de poder abarcando o globo. Ademais, Shambhala ainda existe dentro de um âmbito que aguarda reativação".

De modo a identificar atividades históricas de sociedades secretas nós precisamos apreciar a origem de uma idéia assaz poderosa. As tradições ocultas falam de Shambhala como o centro positivo da Fraternidade da Luz, e Atlântida como o centro negativo dos magos negros, a Fraternidade da Sombra. Onde quer que olhemos nós vemos a divisão de sociedades secretas e empenhos ocultos nessas duas "Ordens" opostas. Todos os movimentos e ensinamentos ocultos inevitavelmente servem ou à "Ordem da Eurásia" ou à "Ordem do Atlantismo", com seus respectivos centros simbólicos de Shambhala e Atlântida. Ocultas por trás de uma multidão de diferentes formas e representados por uma gama de insuspeitos agentes de influência, estes dois centros - Shambhala e Atlântida - representam dois diferentes impulsos na evolução humana.

Visto da perspectiva da geografia sagrada, em nosso ciclo histórico atual, o Atlantismo é o triunfo dos elementos mais destrutivos e diabólicos na civilização ocidental. Uma autoridade moderna em geografia sagrada e geopolítica observa:

"A geografia sagrada com base em 'simbolismo espacial' tradicionalmente considera o Oriente como 'a terra do Espírito', a terra paradisíaca, a terra de uma completude, abundância, a 'terra nativa' sagrada em seu tipo mais pleno e perfeito. Em particular, essa idéia é espelhada no texto bíblico, onde a disposição oriental do 'Éden' é tratada.

Precisamente tal compreensão é peculiar também a outras tradições abraâmicas (Islã e Judaísmo) e também a muitas tradições não-abraâmicas - chinesa, hindu e iraniana. 'O Oriente é a mansão dos Deuses', afirma a fórmula sagrada dos antigos egípcios, e a própria palavra 'Oriente' ('neter' em egípcio) significa ao mesmo tempo "Deus". Do ponto de vista do simbolismo natural, o Oriente é o lugar onde o sol se ergue, Luz do Mundo, símbolo material da Divindade e do Espírito.

O Ocidente possui o significado simbólico oposto. É o 'país da morte', o 'mundo sem vida', o 'país verde' (como os antigos egípcios o chamavam). O Ocidente é 'o império do exílio', 'o poço dos rejeitados', segundo a expressão de místicos islâmicos. Ocidente é 'anti-Oriente', o país da decadência, transição de degradação do manifesto ao imanifesto, da vida para a morte, da completude à carência, etc. O Ocidente é o lugar onde o sol desce, onde ele 'afunda'."



Rússia e o Universo Mágico

A Rússia, geograficamente o maior país da terra, ocupa uma posição única no estudo da história humana nos fornecendo uma janela para o mundo das sociedades secretas, professores ocultos e correntes políticas subterrâneas.

Idéias e práticas tiradas da magia e do oculto sempre foram parte da vida russa. No século XVI o Czar Ivan IV consultou magos e tinha consciência do significado oculto das pedras preciosas de seu cajado. Seu reino era a culminação do sonho de construir uma civilização profética e religiosa na tradição cristã oriental de Bizâncio. Cercado por ordens secretas de monges apocalípticos, Ivan se via como o herdeiro dos reis israelitas e tentou transformar a vida russa segundo sua visão mágica da realidade. Ivan estava convencido de que a nação russa tinha uma missão especial a realizar, nada menos que a redenção do mundo.

Em 1586, o Czar Boris Godunov ofereceu o enorme salário de 2.000 libras inglesas por ano, com uma casa e todas as provisões de graça, para John Dee, o mago inglês e mestre espião, para que o servisse. O filho de Dee, Dr. Arthur Dee, que como seu pai era um alquimista e rosacruz, foi para Moscou trabalhar como médico. Mikhail Romanov, o primeiro Czar da dinastia Romanov, supostamente ascendeu ao trono com a ajuda do Dr. Arthur Dee e do serviço secreto britânico. Antes de sua ascensão ao poder os Romanov eram acusados por seus inimigos de praticarem magia e possuírem poderes ocultos.

O lendário Conte de Saint-Germain, descrito como alquimista, espião, industrialista, diplomata e rosacruz, se tornou envolvido em diversas intrigas políticas na Rússia e era, segundo Nicholas Roerich, "um membro da irmandade do Himalaia". Em 1755 ele viajou pela Eurásia para estudar doutrinas ocultas, e pode até ter visitado o Tibet. É dito que enquanto estudava ocultismo na Ásia Central o Conte foi introduzido aos ritos secretos da magia sexual tântrica que forneceram a ele uma técnica para prolongar sua juventude. Ele também participou de operações de espionagem contra a notória Companhia Britânica das Índias. Saint-Germain fundou duas sociedades secretas chamadas Confrades Asiáticos e Cavaleiros da Luz. Tão cedo quanto 1780 ele alertou Maria Antonieta que o trono francês estava em perigo pro causa de uma conspiração internacional dos "Irmãos das Sombras". Rumores continuaram a circular por muitos anos após sua suposta morte de que Saint-Germain ainda estava vivo trabalhando por trás das cenas na política européia ou estudando doutrinas ocultas na Ásia Central.

Ocidente encontra Oriente

"Poderes ocultos parecem ser uma questão de temperamento nacional...a Rússia tende a produzir magos - homens ou mulheres que impressionam por sua autoridade espiritual; nenhuma outra nação possui um equivalente espiritual de Tolstói e Dostoévsky, ou mesmo de Rozanov, Merezhkovsky, Soloviev, Fedorov, Berdaev, Shestov. Certamente nenhuma outra nação chegou perto de produzir alguém como Madame Blavatsky, Gregory Rasputin ou George Gurdjieff. Cada um é completamente único". - Colin Wilson, The Occult

O processo de síntese das tradições ocultas do Oriente e Ocidente é visto na obra de Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica e o autor do magnum opus A Doutrina Secreta. Nascida Helena von Hahn, a filha de uma família militar russa e prima do futuro Primeiro-Ministro russo Conde Witte, ela é uma verdadeira emissária da Ordem Eurasiana. Nevill Drury diz da ocultista russa: 

"Sua principal contribuição ao pensamento místico era a maneira na qual ela buscava sintetizar filosofia e religião oriental e ocidental, assim fornecendo uma estrutura para entender a doutrina oculta universal".

Madame Blavatsky viajou pela Ásia e Europa, se uniu à milícia revolucionária nacional de Garibaldi, lutando na batalha de Mentana, na qual ela foi gravemente ferida. No final da década de 1870, pouco após a publicação de seu primeiro livro Ísis Desvelada, uma convincente acusação à religião ocidental contemporânea como falida espiritualmente, ela se mudou dos EUA para a Índia onde o quartel-general da Sociedade Teosófica permanece até hoje.

Em 1891 o futuro Czar Nicolau II, na companhia do estudioso místico eurasiano Príncipe Ukhtomsky, visitou o quartel-general da Sociedade Teosófica em Adyar. A descrição da Sociedade pelo Príncipe Ukhtomsky:

"À insistência de Blavatsky, uma senhora russa que sabia e havia visto muito, brotou a idéia da possibilidade, e mesmo necessidade, de fundar uma sociedade de teosofistas, de buscadores da verdade no sentido mais amplo da palavra, para o propósito de alistar adeptos de todos os credos e raças, de penetrar mais fundo nas doutrinas mais sagradas das religiões orientais, de trazer asiáticos a uma verdadeira comunhão espiritual com estrangeiros educados no Ocidente, de mantar relações secretas com diferenças sacerdotes, ascetas, magos, e daí em diante".

Madame Blavatsky queria unificar Ásia Central, Índia, Mongólia, Tibet e China, de modo - com o envolvimento da Rússia - a criar uma grande potência eurasiática para se opor às ambições britânicas. Viajando pela Índia Blavatsky agitou contra o governo britânico e se viu acusada pelas autoridades coloniais de ser uma espiã russa. O Príncipe Ukhtomsky via apoio para a Eurásia na "prontidão dos indianos em se agruparem sob o estandarte da estranha mulher do norte". Ele acreditava que Madame Blavatsky havia sido forçada a abandonar a Índia pelas "suspeitas dos ingleses".

Tão cedo quanto 1887 H.P. Blavatsky havia se tornado tópico de debate na "Petersburgo mística" e recebido o apoio prestigioso do amigo de Ukhtomsky, o misterioso tibetano Dr. Badmaev, que logo se tornaria notório pelo favor que ele recebeu na corte imperial russa e por sua relação com Rasputin. A irmã de Blavatsky insistia que o Metropolita Ortodoxo Russo de Kiev havia reconhecido o dom psíquico da jovem Helena, e a havia alertado a usar seus poderes com discrição, já que ele tinha certeza de que eles haviam sido dados a ela para algum propósito superior.

O Dr. Stephen Hoeller, um estudioso de religião comparada e Bispo Gnóstico, nos lembra que Blavatsky "era uma verdadeira filha da Mãe Rússia. Alguns sentiam que sua vida e caráter correspondem fortemente ao arquétipo tradicional russo do santo andarilho, conhecido como staretz (literalmente "ancião"), denotando um asceta andarilho não-clerical, ou peregrino, que viaja pelo interior, exortando as pessoas em relação a questões espirituais, algumas vezes de uma maneira decididamente heterodoxa".

Após a morte de Blavatsky em Londres em 1891, a Sociedade Teosófica ficou sob o firme controle dos ocultistas ingleses Annie Besant e C.W. Leadbeater, um convicto imperialista britânico. A orientação eurasiática dada pela Teosofia primitiva de Blavatsky foi comprometida pela influência da maçonaria britânica e pelo anglicanismo esotérico de Leadbeater. No grande conflito dos magos o impulso eurasiático encontro novos agentes históricos no Ocidente, entre eles o celebrado mago francês Papus.



Grande Batalha de Magos

"Quando o século XIX tiver chegado ao fim, um dos Irmãos de Hermes virá da Ásia para reunificar a humanidade". - Nosstradamus

Papus, junto com Oswald Wirth e De Guaita, sonhava em unir ocultistas de todos os lugares em uma fraternidade rosacruciana revivida, uma ordem oculta internacional na qual eles esperavam que o Império Russo desempenharia um papel de liderança como ponte entre Oriente e Ocidente.

Papus era o pseudônimo do Dr. Gerard Encausse (1865-1916), um discípulo de Joseph Saint-Yves d'Alveydre (1842-1910), um iniciado da Igreja Gnóstica Francesa e não raro o instigador de muitos dos grupos ocultistas de seu tempo. Um dos mais famosos ocultistas da virada do século, ele foi o fundador da Escola Hermética em Paris, que atraiu muitos estudantes russos, e dirigiu a principal revista ocultista francesa, L'Initiation. Papus era também o líder de duas sociedades secretas, a L'Ordre du Martinisme e a L'Ordre Kabbalistique de la Rose-Croix.

Quando o Czar e a Czarina russos visitaram a França em 1896, foi Papus que lhes enviou uma saudação em nome dos "espiritualistas franceses", esperando que o Czar "imortalizaria seu Império por sua união total com a Divina Providência". Essa saudação era reminiscente das esperanças de místicos à época da Santa Aliança do Czar Alexandre I.

Papus fez sua primeira visita à Rússia em 1901 e foi apresentado ao Czar. Ele rapidamente organizou uma loja de sua Ordem Martinista em São Petersburgo com o Czar como o presidente dos "Superiores Desconhecidos" que a controlavam. O historiador James Webb diz que Papus "estava meramente revivendo uma devoção a uma filosofia que havia florescido na Rússia na virada dos séculos XVIII e XIX antes de ser suprimida".

Como o principal estudante de Saint-Yves d'Alveydre, Papus sabia do papel fundamental a ser desempenhado pela Rússia na unificação da Eurásia e seu destino oculto como o Império do Fim, a manifestação externa do poder enigmático da "Shambhala Nórdica".

Através de Papus, a família imperial passou a conhecer seu amigo e mentor espiritual Mestre Philippe (Nizier Anthelme Philippe). Um místico cristão sincero, ele recebeu título e honras do Czar russo, e manteve contato com a corte imperial até sua morte em 1905.

Papus voltou a São Petersburgo em 1905 onde corria o rumor de que ele, na presença do casal imperial, invocou o espírito do pai do Czar, Alexandre III, que ofereceu conselhos práticos sobre como lidar com uma crise política.

Tanto Mestre Philippe como Papus tiveram um importante papel político na corte russa. Eles não só aconselhavam o Czar em questões de Estado como mantinham contato com influentes iniciados russos da Ordem Martinista, entre eles dois tios do Czar e vários parentes. O ocultista alemão Rudolf Steiner, que tinha seus próprios discípulos entre o Estado-Maior alemão, seguiu a missão dos dois franceses, perturbado pela "grande influência de Papus na Rússia". Um forte defensor de uma aliança entre França e Rússia, Papus alertou o Czar de uma conspiração internacional objetivando a dominação mundial.

"Ele acreditava que o vasto Império Russo era a única potência capaz de evitar a conspiração dos 'Irmãos da Sombra'. Ele também urgiu o Czar a se preparar para uma futura guerra com a Alemanha, então sendo planejada por forças sinistras em Berlim. Segundo um relato, ele prometeu à família imperial que a monarquia Romanov estaria protegida enquanto ele, Papus, estivesse vivo. Quando notícias de sua morte alcançaram Alexandra em 1916, ela enviou uma nota a seu marido (à época comandando os exércitos russos no front na Primeira Guerra Mundial) contendo as palavras 'Papus está morto, nós estamos perdidos!'"

Papus promoveu sua Ordem Martinista como uma oposição às lojas maçônicas que, ele acreditava, estavam a serviço do imperialismo britânico e dos sindicatos financeiros internacionais. De seus escritos é sabido que ele forneceu documentação às autoridades russas sobre atividades maçônicas na Rússia e na Europa. Papus condenou a Maçonaria como ateísta em contraste ao cristianismo esotérico da Ordem Martinista. Ele atacou "nossa época de ceticismo, de adoração de formas materiais, tão vitalmente carente de uma reação verdadeiramente cristã, independente de todos os sacerdócios". Pouco após retornar de sua primeira visita à Rússia em 1901, uma série de artigos apareceu na imprensa francesa pelos quais Papus era o principal responsável. Eles alertavam sobre uma "conspiração oculta" sobre cuja existência o público estava totalmente inconsciente e sobre as maquinações de um sindicato financeiro sinistro tentando romper a aliança franco-russa. O público é cego para as forças reais da história:

"Ele não vê que em todos os conflitos emergindo dentro ou entre nações, há ao lado dos atores aparentes motores ocultos que por seus próprios cálculos interessados tornam esses conflitos inevitáveis...

Tudo que acontece na confusa evolução de nações é assim preparado em segredo com o objetivo de garantir a supremacia de uns poucos homens; e são esses poucos homens, às vezes famosos, às vezes desconhecidos, que devem ser procurados por trás de todos os eventos públicos.

Agora, hoje, a supremacia é garantida pela posse de ouro. São os sindicatos financeiros que seguram nesse momento os fios secretos da política européia...

Poucos anos atrás foi assim fundado na Europa um sindicato financeiro, hoje onipotente, cujo objetivo supremo é monopolizar todos os mercados do mundo, e que de modo a facilitar suas atividades tem que adquirir influência política".

Os inspirados artigos de Papus em Echo de Paris revelavam o papel do Serviço Secreto Britânico, que era exposto como estando por trás da maçonaria britânica, de isolar e enfraquecer a Rússia. Na França, agentes britânicos concentravam-se na propaganda anti-russa, enquanto na Rússia eles faziam uso de "truques financeiros" para se infiltrarem em todos os níveis da sociedade. Cada esforço era necessário para "preservar o Imperador russo - tão leal e generoso - dos males...dos sindicatos financeiros...que atualmente controlem os destinos da Europa e do mundo".



O Tibetano Misterioso

"São Petersburgo...em 1905 era provavelmente o centro místico do mundo" - Colin Wilson, The Occult

Shamzaran (Pyotr) Badmaev era um mongol buriat que havia crescido na Sibéria e se convertido à ortodoxia russa com Alexandre III como seu padrinho. Ele adquiriu considerável influência no Ministério de Relações Exteriores e o Czar lhe deu o título de Conselheiro Privado. Badmaev era renomado como um doutor de medicina tibetana, herbalista e curandeiro que tratava pacientes das alta sociedade em sua famosa clínica de "Medicina Oriental em São Petersburgo. Descrito por um historiador russo como "uma das personalidades mais misteriosas do dia", e um "mestre de intriga", Badmaev desfrutava de uma forte associação com o curandeiro místico Rasputin.

Conhecido como "o Tibetano", Badmaev sonhava com a unificação da Rússia, da Mongólia e do Tibet. Ele se envolveu em incontáveis projetos objetivando a criação de um grande império eurasiático. A missão histórica da Rússia, ele acreditava, se encontrava no Oriente, onde ela estava destinada a unificar os povos budistas e muçulmanos, como uma oposição ao colonialismo ocidental. Badmaev delineou sua visão em um relatório de 1893 ao Czar Alexandre III chamado "As Tarefas da Rússia no Leste Asiático". Seu conhecimento político considerável garantiram o apoio das tribos mongóis na Guerra Russo-Japonesa.

Em uma carta de 19 de dezembro de 1896, Badmaev escreveu para o Czar Nicolau II: "...minhas atividades tem o objetivo de que a Rússia deveria ter maior influência do que outras potências sobre o Oriente mongol-tibetano-chinês". Badmaev expressou particular preocupação com a influência da Inglaterra no Oriente, afirmando em um memorando especial:

"O Tibet, que - como mais alto plateau da Ásia - reina sobre o continente asiático, deve sem dúvidas estar nas mãos da Rússia. Comandando este ponto, a Rússia certamente será capaz de tornar a Inglaterra mais condescendente".

Badmaev conhecia a lenda, popular na Mongólia, China e Tibet, do "Czar Branco" que viria do Norte (da "Shambhala Nórdica") e restauraria as tradições decadentes do verdadeiro Budismo. Ele relatou ao Czar Nicolau II como "buriats, mongóis e especialmente lamas...estavam sempre repetindo que o tempo havia chegado para estender as fronteiras do Czar Branco no leste..."

Badmaev tinha uma forte associação com um lama tibetano bem posicionado, Agvan Dordzhiyev, o tutor e confidente do XIII Dalai Lama. Dordzhiyev equiparava a Rússia com o vindouro Reino de Shambhala antecipado nos textos Kalachakra do Budismo Tibetano. O lama abriu o primeiro templo budista na Europa, em São Petersburgo, significativamente dedicado à doutrina Kalachakra. Um dos artistas russos que trabalhou no templo de São Petersburgo foi Nicholas Roerich, que havia sido introduzido à lenda de Shambhala e ao pensamento oriental pelo lama Dordzhiyev. George Gurdjieff, outro homem de mistério que teve um impacto tremendo no esoterismo ocidental, conhecia o Príncipe Ukhtomsky, Badmaev e o lama Dordzhiyev. Teria sido Gurdjieff, acusado pelos britânicos de ser um espião russo na Ásia Central, um pupilo dos misteriosos tibetanos?

"Eu estou treinando homens jovens em duas capitais - Pequim e Petersburgo - para outras atividades", escreveu o Dr. Badmaev para o Czar Nicolau II.



Anarquismo Místico

A influência do "Tibetano" se estendia para além da corte imperial até a intelligentsia russa e mais ainda até o mundo subterrâneo da espionagem e da política revolucionária. Um dos movimentos intelectuais à época dos tumultos políticos de 1905 era chamado de "Anarquismo Místico". Dois de seus principais expoentes eram o poeta e escritor Viacheslav Ivanov e George Chulkov, ambos associados do Dr. Badmaev. Chulkov, como o "Tibetano", é descrito como um medium inconsciente transmitindo forças misteriosas.

Uma doutrina política radical objetivando reconciliar liberdade individual e harmonia social, o Anarquismo Místico se inspira nas idéias de Friedrich Nietzsche. Isso não é surpreendente quando consideramos a visão positiva de Nietzsche sobre a Rússia como a antítese do Ocidente decadente, e a apreciação do filósofo alemão pelo budismo e pela cultura oriental.

Segundo a historiadora Bernice Glatzer Rosenthal, os anarquistas místicos, convictos de que "forças invisíveis estavam guiando eventos aqui na Terra, acreditavam que a revolução política refletia realinhamentos na esfera cósmica, e que um novo mundo de liberdade, beleza e amor era iminente".

"Defendendo a abolição de todas as autoridades externas e todas as restrições sobre o indivíduo - governo, lei, moralidade, costume social - eles eram indiferentes a direitos legais como meras "liberdades formais" e se opunham a constituições e parlamentos em favor do sobornost. Por sobornost eles queriam dizer uma comunidade livre unida por amor e fé cujos membros preservavam sua individualidade (como distinto de individualismo, auto-afirmação à parte ou contra a comunidade)...

Eles fundavam esse ideal em sua noção de 'pessoa mística', a alma ou psiquê, que busca união com outros e se reconhece como um microcosmo do macrocosmo, como distinto da 'pessoa empírica', o Eu ou ego, que se afirma à parte ou contra outros. Evocar e desenvolver essa 'pessoa mística' tornaria possível uma 'nova sociedade orgânica' unida por laços invisíveis de amor (eros, não agape), 'experiência mística', e sacrifício - o exato oposto da sociedade liberal, baseada no contrato social e no auto-interesse mútuo e caracterizada pelo discurso racional".

O Anarquismo Místico é uma idéia sociopolítica totalmente eurasiana. Aqui nós temos um motivo assaz arcano em uma forma moderna: A grande luta da civilização empírica, plutocrática e ocidental contra a cultura mística, sacrificial da Eurásia. Em termos ocultos é o conflito do impulso de "Shambhala" com os renegados da "civilização atlante". A Fraternidade da Luz Nórdica combatendo os Irmãos das Sombras, manifestação externa da longa guerra entre os agentes do Ser e do Não-Ser.

Nicholas Berdyaev, Dmitri Merezhkovsky, Zenaida Hippius, Valerri Briusov, Mikhail Kuzmin, Alexandre Blok, Vasili Rozanov, junto a uma hoste de outros poetas, escritores e artistas russos, transmitiram diferentes aspectos do Anarquismo Místico e da visão eurasiana. Quando nos anos antes da Revolução o mestre sufi Inayat Khan visitou a Rússia, ele encontrou muito a ser elogiado no "tipo oriental de discipulado que é natural à nação".

Merezhkovsky viu a possibilidade de evoluir uma "nova consciência religiosa" dos dois tipos peculiarmente russos representados por Tolstói e Dostoévski. Tolstói representava um misticismo panteísta da carne, e Dostoévski valores espirituais mais ascéticos. "Nessa Rússia o 'Homem-Deus' será manifesto ao mundo ocidental, e o 'Deus-homem' pela primeira vez para o oriental, e será, para aqueles cujo pensamento já reconcilia ambos hemisférios 'Um em Dois'".

Após a Revolução Bolchevique, Blok contrastou a nova Rússia com o Ocidente. Ele chamou a Rússia de a "Cita", ou seja, uma nação jovem e fresca cujo destino era desafiar o Ocidente decadente:

"Nós somos os citas, nós somos os asiáticos...séculos de vossos dias não são mais do que uma hora para nós, Ainda assim como escravos obedientes, Nós seguramos um escudo entre duas raças hostis - Europa, e as hordas mongóis...Da guerra e horror venham aos nossos braços abertos, O abraço de parentes, Coloque a velha espada longe enquanto há tempo, Nos saúdem irmãos...Ah, Velho Mundo, antes que pereças, una-se a nosso banquete fraternal".

O poeta Nikolai Kliuev e seu jovem amigo Sergei Esenin incluíam imagens ocultistas e temas eurasianos em suas obras. Ao fim de 1917 Kliuev (1887-1937), um profeta e emissário da Eurásia, escreveu:

"Nós somos a hoste dos portadores-do-sol
No centro do universo
Ergueremos uma casa flamejante de cem andares
China e Europa, Norte e Sul
Virão à câmara em uma dança-de-roda de amigos
Para unir Abismo e Zênite
Seu padrinho é o próprio Deus e sua Mãe
É a Rússia".

O protegido de Kliuev, Esenin (1895-1925), desejava o fim do velho mundo e sua substituição por um novo, e até mesmo proclamou uma nova tendência religiosa chamada "Aggelismo", com claras raízes no gnosticismo russo. Ele saudava tanto Cristo como Gautama o Buda como gênios porque eles eram homens de "palavra e ação". Em uma carta a um amigo, Esenin escreveu:

"Povo, olhai para si, não emergiu Cristo de vós, e vós não podeis ser Cristos? Não posso eu com força de vontade ser um Cristo...? Quão absurda é toda nossa vida. Ela nos distorce desde o berço, e ao invés de pessoas verdadeiramente reais algum tipo de monstro emerge".

Ele alertou os Estados Unidos, para ele o símbolo de todas as fontes não-russas e racionalistas, para não cometer o erro da "descrença" e ignorar a nova "mensagem" da Rússia, já que o caminho para a nova vida é somente através da Rússia. Um amigo escreveu como Esenin e seus companheiros poetas "citas" queria um "aprofundamento da revolução política ao nível social" e passaram a considerar o marxismo russo como "áspero". Antes de sua morte, Esenin se tornou convicto de que "forças malignas" haviam usurpado a Revolução e que os Bolcheviques traíram a missão da Rússia.

O famoso poeta Nikolai Kliuev conhecia tanto o Dr. Badmaev como Grigory Rasputin, e como este havia sido iniciado em uma escola secreta de misticismo sexual cristão com similaridades ao Tantra tibetano e o Shivaísmo indiano. "Eles me chamaram de um Rasputin", escreveu Kliuev em um poema de 1918. A espiritualidade de Kliuev era profundamente enraizada na tradição dos dissidentes religiosos russos como os Velhos Crentes, os Khlysty e Skoptsy, que formavam um verdadeiro rio subterrâneo entre as pessoas comuns. Kliuev admitiu como ao ser desafiado por um ancião Khlyst a se "tornar um Cristo", ele foi apresentado à comunidade secreta dos "irmãos da Pomba". Com a ajuda de "várias pessoas de identidade secreta", Kliuev viajou por toda a Rússia participando de rituais secretos e bebendo das tradições ocultas do Leste russo.

Em seus poemas Kliuev buscava transmitir o espírito místico da Eurásia. Ele era um profeta de Belovodia, o nome dado pelos Velhos Crentes russos ao aguardado paraíso terreno similar a Shambhala. Kliuev visualizava uma transformação radical da Rússia que traria uma sociedade sem classes em que a cultura campesina triunfaria sobre o industrialismo, o capitalismo, e a mecanização geral da vida. Ele expressou sua preocupação pelos perigos da civilização desalmada ocidental em uma carta de 1914 a um amigo:

"Todo dia eu vou ao bosque - e lá me sento perto de uma pequena capela - e o velho pinheiro, há tão somente uma polegada do céu, eu penso em você...eu beijo seus olhos e seu querido coração...oh, mãe natureza! Paraíso do espírito...quão odioso e negro parece todo o assim-chamado mundo civilizado e o que eu não daria, que Golgotha eu não suportaria - para que a América não arremetesse sobre a aurora azul...sobre a cabana de contos de fada".

O filósofo russo Nicholas Berdyaev articulou a visão partilhada pelos pensadores russos pré-revolucionários bem como pela elite cultural, quando ele escreveu do fim do racionalismo ocidental e do nascimento de uma nova era do espírito que testemunharia o conflito do Cristo e do Anticristo. Ele viu a popularidade de doutrinas místicas e ocultas como prova da aproximação dessa Nova Era, e pediu por uma "nova cavalaria".  "O homem não é uma unidade no universo, formando parte de uma máquina irracional, mas um membro vivo de uma hierarquia orgânica, pertencendo a um todo vivo e real". Os ataques de Berdyaev contra os valores materialistas ocidentais somente refletiam uma visão amplamente partilhada pela sociedade russa. Escrevendo em exílio no início da década de 30 ele observou:

"O individualismo, a 'atomização' da sociedade, a aquisição desordenada do mundo, a superpopulação indefinida e a inesgotabilidade das necessidades do povo, a falta de fé, o enfraquecimento da vida espiritual, essas e outras são as causas que contribuíram para construir aquele sistema capitalista industrial que mudou a face da vida humana e rompeu seu ritmo com a natureza".

Jornada para Shambhala

"Nicholas Roerich foi um homem que trouxe glória para nosso povo russo; ele é um representante de nossa civilização e de sua cultura, um de seus pilares". - Mikhail Gorbachev

Nikolai Konstantinovich Roerich (1874-1947) havia sido introduzido à idéia de Shambhala enquanto trabalhava na construção do primeiro templo budista já construído na Europa. Pessoalmente próximo à intelligentsia pré-revolucionária da Rússia, Roerich se tornou um artista altamente respeitado e prolífico. Um estudando das obras de Madame Blavatsky, Roerich acreditava na unidade transcendente de religiões - na noção de que um dia o budista, o muçulmano e o cristão perceberiam que seus dogmas separados eram cascas ocultando a verdade interior. Entre 1925 e 1928, Roerich realizou cinco notáveis expedições pela Ásia Central, focando ma região misteriosa entre os Urais e o Himalaia, a área considerada como o coração da Eurásia. As tradições e lendas encontradas por Roerich em suas viagens são descritas nos livros Altai-Himalaya, Coração da Ásia e Shambhala.

Na tradição do Budismo Tibetano, Shambhala é a terra oculta em que os ensinamentos da escola tântrica Kalachakra ("Roda do Tempo) são mantidas em sua forma mais pura. Roerich descobriu que a Shambhala do Budismo Tibetano não é muito diferente da lenda de Belovodia preservada pelos místicos cristãos russos. Um ancião da seita dos Velhos Crentes confidenciou a Roerich:

"Em terras distantes, para além dos grandes lagos, para além das montanhas mais altas, há um lugar sagrado onde toda verdade floresce. Lá é possível encontrar o conhecimento supremo e a futura salvação da humanidade. E esse lugar é chamado Belovodia, significando águas brancas".

Nicholas Roerich escreveu sobre como em uma visita à capital mongol Ulan-Bator na década de 20, ele ouviu soldados revolucionários cantando:

"A guerra da Shambhala Nórdica
Morramos nessa guerra
Para renascermos de novo
Como Cavaleiros do Governante de Shambhala".

Por "Shambhala Nórdica" se quer dizer Rússia-Eurásia. Em seu livro Coração da Ásia, Roerich definiu Shambhala não tanto quanto um reino vindouro como um evento - uma nova época para a humanidade da qual Shambhala e Belovodia eram símbolos atemporais:

"Você notou que o conceito de Shambhala corresponde às aspirações de nossa pesquisa científica ocidental mais séria... Em sua busca, os discípulos orientais de Shambhala e as melhores mentes do Ocidente, que não temem olhar para além de métodos desgastados, estão se unindo".

Roerich jamais duvidou do papel crucial que a Rússia teria em unir a mais nobre sabedoria tanto do Oriente como do Ocidente. Na Rússia uma nova síntese emergiria e um novo dia raiaria para a humanidade, nem exclusivamente ocidental nem totalmente oriental, mas verdadeiramente eurasiana. Em 1940, conforme o mundo se viu lançado em uma guerra, Roerich discerniu os primeiros vislumbres de uma Nova Era e escreveu:

"O povo russo empilhou grandes pedras. Para a admiração de todos eles não construíram uma Torre de Babel mas uma Torre russa. Um Kremlin de Portadores-do-Sol com uma centena de torres!... Ouçam - este é o futuro, e quão radiante ele é!".

Um ano depois em 1941 ele comentou:

"Todo o mundo caminha rumo ao Armageddon. Todos estão confusos. Todos estão inseguros em relação ao futuro. Mas o povo russo encontrou seu curso e com uma poderosa enchente estão nadando rumo a seu radiante futuro".

"Você deve prestar Atenção em Mim, para poder Me Ver"

O futuro radiante da humanidade, como Shambhala, se situa no limiar. Um colégio invisível de homens e mulheres de cada era e cada nação o vislumbraram e responderam ao impulso. Vivendo nos primeiros anos de um novo milênio nós estamos testemunhando o desdobramento de um antigo plano. Assim como não há dia sem noite, também não há uma autêntica Nova Era sem sua contraparte. E assim como as trevas devem ceder lugar à nova aurora, também nossa atual Era das Trevas passará sob a grande luz da "Shambhala Nórdica".

Por trás do emaranhado dos eventos atuais a antiga batalha está sendo concluída. "Em tempos de guerra", disse o emissário do Atlantismo Winston Churchill, "a verdade é tão preciosa que ela deve ser sempre atendida por uma guarda de mentiras". Fortalecidas pelos magos malignos de Atlântida, as sociedades secretas ocidentais estão em um estado de guerra oculta com a Ordem da Eurásia.

Nós aguardamos a chegada da Nova Era de Shambhala, a derrubada dos Irmãos das Sombras dos centros governamentais e financeiros da terra, e o fim do karma maligno herdado das trevas de Atlântida.

Alice Bailey, que descreveu Shambhala como "o centro vital da consciência planetária" e a relacionou à Segunda Vinda do Cristo, também profetizou o papel especial da Rússia em trazer a verdadeira Nova Era:

"A partir da Rússia...emergirá aquela nova e mágica religião sobre a qual eu lhe falei. Ela será o produto da grande iminente Aproximação que ocorrerá entre a Humanidade e a Hierarquia. Desses dois centros de força espiritual, em que a luz que sempre brilhou no Oriente e a partir do Oriente irradiará o Ocidente; todo o mundo será inundado com o brilho do Sol da Retidão. Eu não estou aqui me referindo, em conexão com a Rússia, à imposição de qualquer ideologia política, mas ao aparecimento de uma grande e espiritual religião, que justificará a crucificação de uma grande nação e que se demonstrará e se focará em uma grande e espiritual Luz que será mantida no alto por um expoente russo vital de verdadeira religião - aquele homem por quem muitos russos tem procurado, e que será a justificativa de uma muito antiga profecia".



19/01/2013

Reflexões Sobre a Coca-Cola

por Janus Montsalvat



Há pouco lemos um artigo muito interessante de Isidro-Juan Palacios sobre o simbolismo das bebidas. Nas civilizações tradicionais e pré-modernas, se criaram "bebidas de fogo", isto é, alcoólicas, já que o ardor e embriaguez que produziam se assimilavam ao calor solar, à potência e quentume do Astro Rei. Bebidas como o vinho, a cerveja, a vodka, etc... Eram consideradas por estes povos que viviam a Tradição, bebidas sagradas.

Mas com a chegada da modernidade, sobretudo na etapa final do Kali-Yuga, a civilização moderna prototípica como é a americana inventou sua própria bebida "sagrada": a coca-cola, esta bebida satânica não só não produz ardor como as tradicionais, mas que há de beber-se quanto mais fria melhor e além disso seu calor simboliza o desse combustível fóssil base da atual economia planetária (e sobretudo da americana) e que está convertendo nosso planeta em um imensa e globalizada esterqueira: o petróleo. Este na última grande civilização que houve no Oriente e que foi a Idade Média, era considerado como "aqua infernalis" (água do inferno).

Por isso, esses dois símbolos que reflete essa bebida nauseabunda que é a coca-cola que são o "frio" e o "preto", significariam, pois, a morte da primavera paradisíaca que existia na Idade de Ouro e por outro lado, a maldade, a escuridão e o caos que acompanham nesta fase terminal do Kali-Yuga ou Idade Escura.

Não deixa de ser curioso quanto menos de que os governos ocidentais por isso das "afinidades eleitivas" das quais falava nosso Mestre Julius Evola, façam propaganda massivamente a favor da Coca-cola e contra as bebidas de fogo com a desculpa barata de que "destroem nossa juventude". Não ficamos em que nossos "maravilhosos" jovenzinhos são tão inescrupulosos? Que estes sejam uns autênticos imbecis incapazes de governar-se a si mesmos, não é culpa das bebidas sagradas, além disso, não dizem os textos sagrados que as coisas santas não há que lançar-las aos porcos? Por que não se fala da destruição que produz esse veneno preto no organismo a um prazo mais ou menos longo?: diabetes devido aos altos conteúdos de açúcar, descalcificação óssea sobretudo nos meses de verão devido a que a dependência da mesma faz com que quando se têm sede se beba em demasia ao invés de outras bebidas naturais (água, sucos, etc.) e que, portanto, deixam em um permanente estado de desidratação, debilitação dos sentidos, efeminação, etc.

A destruição que o petróleo (água infernal) faz na natureza, violando-la, degradando-la e contaminando-la, são semelhantes aos quais a coca-cola faz no organismo humano, é a lei das analogias "o que é acima igual é abaixo", como dizia o adágio hermético. A ciência dos símbolos é tão precisa como as matemáticas ou a geometria.

Um copo de bebida "refrescante" já seja aqua infernalis (coca-cola ou pepsi-cola), ou fanta ou qualquer outra bebida anti-tradicional equivale a um copo de água com TREZE COLHERES DE AÇÚCAR (o pomos com maiúsculas para ressaltar o criminoso e ofensivo do assunto) acrescentados ao mesmo. Se imagina por um momento a destruição que tais quantidades de açúcar podem chegar a ocasionar ao corpo humano e mais se este ainda está em período de formação ao tratar-se de consumidores principalmente jovens? Logo está o tema dos edulcorantes que são ainda mais daninhos que o próprio açúcar: o aspartame, por exemplo, é um edulcorante artificial que aparece em alguma destas bebidas infernais "sem açúcar", mas que é altamente cancerígeno...

Também está o tema da lata de alumínio onde preferentemente se envasilha hoje em dia ditas bebidas: está quase demonstrado (embora certamente pouco ou nada se diga disso) que o alumínio se infiltra na bebida devido ao gás carbônico que estas contêm e que a longo prazo poderiam terminar em graves enfermidades cerebrais como o Alzheimer ou o Parkinson. Por tudo isto nos causa muita hilaridade quando escutamos as advertências de certos carniceiros de bata branca (médicos?; não era antigamente a medicina autêntica, uma ciência sacerdotal?) aconselhar a torto e direito "não beber"... A ver: não beber o que!, isso é o que teríamos que responder à esses burocratas da saúde. Por que estes criminosos sem escrúpulos não denunciam este tipo de bebidas infernais muito mais destrutivas que as bebidas de fogo?

Já não dizia Hipócrates "que teu alimento seja teu remédio" e não recorrer, ou fazer-lo minimamente se não há mais remédio, a esses burocratas frios e desalmados que inclusive se atrevem a jurar cinicamente um juramento no qual nem sequer acreditam nem praticam (quantos mediquinhos de hoje, tão modernos e tolerantes eles, em dia se opõem às práticas abortivas?).



18/01/2013

Escolasticismo, Protestantismo e Modernidade

por Paul Gottfried



O protestantismo emergiu com a queda do escolasticismo, e o protestantismo, por sua vez, levou ao fim da hierarquia e à ascensão do individualismo.

Um derivado curioso, mas significativo, da Reforma Protestante foi o suporte moral para o que se tornou a modernidade burguesa. Essa conexão é particularmente notável na medida em que os reformadores Martinho Lutero e João Calvino buscavam restaurar uma comunidade cristã, e não construir uma nova civilização. O que eles consideravam objetável na igreja medieval não era seu tradicionalismo, mas seu caráter pagão e não-bíblico. Eles atacaram a tentativa dos filósofos católicos Albertus Magnus (1200-1280) e Tomás de Aquino (1225-1274) de importar a filosofia aristotélico no que deveria ser um Cristianismo baseado na Bíblia.

Os reformadores objetavam à visão escolástica de que as pessoas, apesar do Pecado Original, poderiam melhorar seu caráter através do esforço moral. De fato, eles insistiam na prisão da vontade ao estado natural de devassidão do homem, uma condição que só poderia ser melhorada pela infusão de graça divina. E essa graça era dada não em resposta à exerção humana mas como um trabalho exterior (opus extrinsecum) pelo qual seres caídos só poderiam esperar e orar. Apesar de que essa compreensão fatalista da redenção subjazia a teologia de Calvino mais explicitamente do que a de Lutero, ela não obstante estava presente em ambos. Uma concepção radical da pecaminosidade humana, parcialmente derivada de Santo Agostinho, permeava o pensamento da Reforma. A absoluta corrupção humana necessitava de uma forma dramática de redenção divina, a qual cada indivíduo tinha que experimentar para saber que ele foi salvo.



Escolasticismo e Racionalismo Moderno

De algumas maneiras o pensamento escolástico característico das universidades européias nos séculos XII e XIII parece mais próximo do racionalismo moderno do que a teologia reformista. Os estudiosos acreditavam que o bem era cognoscível através da razão correta, que o conhecimento sobre a existência de Deus era acessível ao entendimento humana, e que a retórica e filosofia pagãs eram apropriadas para a educação dos cristãos. Ainda que os estudiosos medievais não negassem a doutrina do Pecado Original ou a necessidade de graça para se mover em direção a uma vida cristã, eles consideravam os sacramentos e a instrução da igreja suficientes para este fim. O pecado de Adão não destruiu irreparavelmente o caráter humano, mas uma vez lavado com o batismo, o pecado inato não nos impediria de desenvolver nossas capacidades morais, pelo aprendizado e por hábitos úteis.

Compreensivelmente, críticos do pensamento escolástico, que alcançaram sua maior influência ao final do século XIII, acusavam seus adversários de tendências pagãs e racionalistas. Desde místicos franciscanos como São Bonaventura passando por filósofos nominalistas nos séculos XIV e XV até os grandes pensadores da Reforma, a crítica era ouvida de que os escolásticos minimizavam a experiência da fé e atribuíam importância excessiva ao raciocínio teológico. Ainda que Tomás de Aquino, por exemplo, tenha defendido na Summa Theologica que a crença em Deus pode resultar puramente da fé (credibilia), ele não obstante também forneceu cinco provas da existência de Deus, uma das quais derivava da física aristotélica. Como outros escolásticos, o Aquinate insistia que "o filósofo" poderia levar os cristãos a algumas, senão a todas as verdades teológicas.

Ainda mais importante para a história da ética, o Aquinate e outros escolásticos relacionavam regras de conduta a raciocínio moral. Deus como fonte de todo ser, como sublinhado na "Exposition super librum Boethii", fornecia tanto cognição natural (lumen naturale) como revelação sobrenatural (lumen supernaturale). Cada qual tornada disponível para esclarecer a verdade divina, e pela operação da razão universal bem como pela moralidade bíblica, os humanos eram capazes de formar decisões éticas apropriadas, fora bem como dentro de uma sociedade cristã. Ademais, apesar da queda de Adão, tanto os mundos social como natural davam evidência de uma ordem (ordo mundi) que apontava para um Autor divino. Seguindo a noção aristotélica de desígnio, o Aquinate insistia que o mundo era inteligível aos nossos intelectos porque ambos eram produto de uma Razão divina. As mentes humanas treinadas para pensar poderiam aplicar a "razão correta" a questões morais, chegar a "juízos prudentes" em relação ao bem social, e apreender a interrelação do mundo físico.

Apesar do aparente ponto de entrada que alguns encontraram aqui em direção a uma cultura moderna, científica e racionalista, há qualificações que tem de ser feitas antes de se assumir que tais ligações existem. Como o pensador social alemão Ernst Troeltsch explica em Protestantismo e Progresso, a visão-de-mundo escolástica mais plenamente articulada por Tomás de Aquino estava inextricavelmente ligada à sociedade medieval. Ela assumia graduações e uma ordem de autoridade caracterizada por hierarquias eclesiásticas e temporais, ambas as quais eram vistas como necessárias para o bem-estar humano. A ordo tomística não era uma coleção de indivíduos em busca de verdades divinas e racionais. Ela era mantida unida por relações sociais orgânicas baseadas em status. O temporal servia ao eclesiástico, o laborador físico ao contemplativo, e o cavaleiro a seu senhor.

Transações econômicas, como outras transações sociais, eram fixadas em termos de desígnio hierárquico percebido como presente por toda a criação. O comércio devia ser regulado por seu propósito designado, satisfazer necessidades materiais específicas: Ele devia ser praticado em acordo com um "preço justo" que poderia ser calculado em relação a fatores de custo, mas que proibia a cobrança de juros (prodesse faenore).



A Desconstrução do Escolasticismo

O que aconteceu no Ocidente pós-escolástico culminando na Reforma foi a progressiva desconstrução dessa perspectiva escolástica. Particularmente nos tratados nominalistas do monge franciscano de Oxford Guilherme de Ockham (1280-1349), cujo pensamento marcou Lutero e outros reformadores protestantes, a ordo escolástica é sujeita a uma crítica impiedosa. Para nominalistas como Ockham, não há síntese harmônica entre razão e fé, nem correspondência necessária entre a mente de Deus e a ordem social. Se proposições religiosas ou preceitos éticos eram tidos como verdadeiros, era necessários aceitá-los com base na fé. Pois a razão crítica, mantinha Ockham, estava ali para desafiar e desacreditar verdades recebidas, e a realidade incondicional que os escolásticos haviam atribuído à justiça, à bondade e a outros ideais aos quais eles apelavam eram meramente nomes (nomina) atribuídos aos objetos de nossa percepção.

O próprio Deus, como conceitualizado pelos nominalistas, era essencialmente vontade absoluta. Aquelas leis ou regularidades pelas quais Ele controlava a criação eram produtos de volição divina. O que era percebido como verdades racionais ou morais, segundo Ockham, fluíam de sua vontade. Mas aqui, também, era necessário aceitar a possibilidade de que o que era pensado como sendo certo acabaria sendo um figmento de nossas mentes após ulterior exame. O pensamento nominalista encorajava tanto como a fé na medida em que pressupunha um abismo entre verdade divina e razão humana.

A Reforma acrescentou a esse escolasticismo desconstruído dois elementos críticos, uma teologia positiva e ensinos sociais implícitos que eram incompatíveis com a ordem tomístico-aristotélica. Se inspirando na Carta de São Paulo aos Romanos, Lutero e Calvino ambos proclamaram que os cristãos são justificados pela fé, independentemente de qualquer obra ou sacramento. Nem era a razão essencial para esse processo na medida em que o crente é salvo da danação tão somente pela fé, como a certeza interior da eleição divina. Essa visão reformista da vida cristã, como uma tentativa de encontrar evidência de favor divino desde dentro, foi condutiva à modernização de maneiras que não poderiam ter sido completamente compreendidas no século XVI.

O Ataque do Protestantismo à Hierarquia

Olhando para o efeito modernizador do protestantismo ao longo de um período de séculos, o teólogo presbiteriano e pensador político James Kurth observa (Orbis, Primavera 1998): "Todas as religiões são únicas, mas o protestantismo é mais única do que todas as outras. Nenhuma é tão crítica da hierarquia e da comunidade, ou das tradições e costumes que as acompanham".

Já nos escritos germinais de Lutero como reformista em 1520-21 eram afirmadas ideias protestantes que trariam consequências sociais cataclísmicas. O "sacerdócio de todos os crentes", o repúdio de uma diferença espiritual entre clero e leigo, a necessidade para cada indivíduo de desenvolver um relacionamento pessoal com Cristo, a irrelevância da estrutura sacramental e legal da igreja em conquistar a salvação, a igual santidade de todas as vocações honradas, e a demanda de que todos os cristãos tenham acesso à Bíblia como palavra proferida por Deus eram mais do que posturas religiosas. Eram pontos de afastamento para uma transformação social e cultural. Independentemente do quanto Lutero haja se oposto à desobediência social e tenha denunciado uma revolta camponesa na Alemanha que citava sua obra, a Reforma foi, como contrarrevolucionários católicos posteriores a descreveram, um convite a nivelar por baixo. Ou, como Jaime I da Inglaterra respondeu a uma sugestão de que os presbiterianos tivessem permissão de formar a igreja oficial na Inglaterra, "sem bispo sem rei".

Mas a revolução promovida pelo pensamento protestante não levou a revolução permanente. Ao invés, o protestantismo contribuiu para a civilização burguesa a partir da qual repúblicas constitucionais, monarquias limitadas e economias de livre-mercado todas emergiram, direta ou indiretamente. Inúmeros estudiosos exploraram essa relação, e uma distinção a ser feita entre elas é entre aqueles que falam em consequências não-intencionais e os que não falam. Claramente na primeira categoria está o grande sociólogo alemão Max Weber, que em 1983 examinou a conexão entre a teologia moral calvinista e o "espírito capitalista". Segundo Weber, calvinistas não partiram para acumular riqueza ou para reinvesti-la em busca de lucro. Eles se dirigiram nessa direção porque sua busca por sinais da graça divina, junto com sua crença na igual dignidade de todas as vocações, os predispôs às atividades bancárias e comerciais. Ao servir Deus desinteressadamente em seu trabalho e prosperando, eles eram capazes de se convencer de sua graça predestinada. E ao invés de praticar a disciplina monástica, como em culturas católicas, os calvinistas levaram hábitos ascéticos a papeis burgueses, vivendo de modo abstêmio e cultivando a ética de trabalho protestante.

Protestantismo e Subjetivismo

Contra essa visão de consequência não-intencional, outros tem afirmado que os protestantes estabeleceram as bases da sociedade moderna mais deliberadamente. Assim Hegel afirmou que os protestantes criaram uma consciência moderna ao enfatizar a "subjetividade" encontrada no Novo Testamento. Ainda que a auto-consciência individual tenha sempre estado presente enquanto valor naquele texto, as condições históricas não favoreciam sua emergência como valor religioso dominante até o século XVI.

Mais recentemente, o historiador social Benjamin Nelson ligou os primórdios do capitalismo bancário à rejeição da proibição hebraica à cobrança de juros. Nelson encontra essa visão enfaticamente afirmada nos Institutos de Calvino e apresenta Calvino como o primeiro exegeta bíblico a distinguir investimento comercial de empréstimos feitos aos despossuídos. Era apenas o segundo, Calvino observou, que estava proibido em Deuteronômio. Em uma nota similar, Troeltsch havia já comentado na abertura da sociedade à atividade comercial causada pelo ataque protestante à cristandade medieval. Não o resultado de qualquer reinterpretação teológica singular, essa mudança ocorreu por causa de um ataque geral à visão-de-mundo cristã-aristotélica e à hierarquia sacramental que ela sustentava.

Em um estudo detalhado das consequências não-intencionais do protestantismo, Weber notou a visão modificada da natureza e do trabalho produzidas pela Reforma, particularmente pela educação calvinista dos próprios ancestrais franceses de Weber. A busca calvinista por sinais da eleição divina, mantinha Weber, não só nutria a psicologia e a prática do capitalismo como reforçava a crença de que o mundo existia tão somente para o eleito, que poderia tanto compreender como explorar a natureza e a sociedade. Weber via o racionalismo e o secularismo como duas consequências da teologia moral calvinista. Confrontando um mundo divinamente criado que, segundo o Gênese, estava colocado à disposição da humanidade, e esperando relacionar aquele mundo às próprias experiências espirituais pessoais, o calvinista, segundo Weber, tentava fazer com que o mundo exterior se adequasse às suas próprias necessidades como um dos eleitos. O observador calvinista não sentia qualquer senso de mistério na presença da natureza, mas ao invés a via mais como algo a ser dominado na glorificação de Deus e elevando sua própria certeza de salvação.

Ademais, a ênfase protestante na leitura e discussão da Bíblia não levou ao desprezo pela análise intelectual demonstrada por Lutero quando ele se referiu à Razão como a "Prostituta do Diabo". Ao contrário, o biblicismo protestante contribuiu para a alfabetização das massas e para o surgimento de igrejas democraticamente organizadas que definiriam suas próprias doutrinas. Uma opinião frequentemente ouvida entre historiadores é que os russos jamais passaram pela modernização política, porque eles jamais experimentaram ou foram significativamente influenciados pela Reforma Protestante. Essa opinião parece consideravelmente plausível quando se olha para os resultados não-intencionais bem como para os intencionais desse desenvolvimento.



Um Impulso de Mudança

Por outro lado, pode ser afirmado que o protestantismo incluía um impulso de mudança que agora pode ser difícil de deter. Em A Sociologia da Religião, Weber explorou esse problema quase há cem anos. As forças criadas ou intensificadas pela Reforma que resultaram em uma sociedade comercial burguesa continuariam a promover a mudança, nem toda ela favorável aos beneficiários de uma antiga cultura protestante. A exploração de uma natureza desmistificada, a transição da vida religiosa da comunidade para o indivíduo, e uma suspeita geral em relação a hierarquia eventualmente levou a uma direção hostil às instituições burguesas.

Tudo isso, pode-se concluir, de fato veio a se passar nas sociedades protestantes, como se pode inferir da desintegração da família, do culto à tecnologia, e da ascensão das burocracias e estados modernos como planejadoras e provedoras das famílias. Tais observações devem ser qualificadas apontado para o fato de que os reformadores protestantes teriam ficado horrorizados com essa situação tanto quanto os escolásticos medievais. Até recentemente os protestantes enfatizavam rigor moral e a virtude familiar pelo menos com tanta força quanto os católicos. Mas as sociedades protestantes eram menos orgânicas, enquanto a moralidade protestante centrava mais nos indivíduos do que nas famílias e na comunidade. E a visão do crente de sua vida como o "progresso do peregrino", para usar o nome do mais importante clássico protestante, ajudou a dar origem a uma doutrina especificamente moderna de progresso, associada com a subjugação da natureza e a difusão de conhecimento moral e técnico. O mundo protestante passou de ser um teste do eleito a um objeto material com o qual se sente livro para manipular.

Face a essas consequências protestantes não-intencionais, os filósofos católicos Nicholas Capaldi e Nino Lingiulli fizeram a irônica observação de que católicos americanos étnicos podem estar mais próximos do protestantismo burguês do que quaisquer outros. Tendo absorvido atitudes protestantes como resultado de americanização, os camponeses católicos que vieram para os Estados Unidos - e mais ainda os seus descendentes - assumiram valores distintamente ocidentais. A ética de trabalho calvinista, uma religiosidade mais individual e interior do que aquela presente entre seus ancestrais, e o desconforto com as formalidades do culto católico são todas características desses católicos protestantizados. Mas diferentemente dos membros da cultura majoritária protestante, tais católicos ainda não abandonaram completamente seu senso comunal - nem sua fascinação com as virtudes burguesas.

Ainda assim, é possível imaginar por quanto tempo essa insulação católica americana vai durar. Se o caráter católico latino e eslavo dos imigrantes americanos pôde ser modificado uma vez, por características protestantes, porque o mesmo processo não poderia continuar? Por que deveriam aqueles que foram expostos e absorveram parte da cultura protestante resistir a ela em sua fase radicalizada tardia? Similarmente, por que deveriam milhões de asiáticos que se converteram ao protestantismo e usualmente representam uma forma vitoriana austera dele permanecer embebidos nessa forma particular? Por que não deveriam presbiterianos e metodistas chineses e coreanos ser sobrepujados pelas forças que já sobrepujaram o protestantismo ocidental? Defasagens culturais são superadas - e nem sempre para melhor.