15/07/2017

Mark Hackard - Disney Manifesta

por Mark Hackard



Ao passo que nos aproximamos de outro dia da independência na América, vale a pena refletir sobre o significado do status excepcional tão anunciado de nosso país. Nossa terra é de fato bela e abençoada de muitas maneiras, lar de milhões de almas amáveis e generosas. Mas fingir que tudo está bem seria como assobiar ao passar por um cemitério. Os Estados Unidos, devemos lembrar, nunca foi concebido como uma nação orgânica, mas como um construto revolucionário, o arauto de uma Novus Ordo Seclorum em seu alvorecer. E então o seu progresso está sempre irrealizado, sua natureza não é o ser, mas o transformar-se, a sua vastidão um laboratório para alquimia social em escala continental. E ainda, de todas as tentativas para identificar o significado do sonho americano, nenhuma representou sua essência de maneira mais apta do que um humilde monge ortodoxo, o abençoado Fr. Seraphim Rose:

"Pode-se tomar, como símbolo de nossos tempos despreocupados, divertidos, de auto adoração, a Disneylândia americana; se assim o for, nós não devemos deixar de reconhecer por trás dela o símbolo mais sinistro que mostra para onde a “geração eu” está realmente indo: o Gulag soviético".

Fr. Seraphim escreveu essas palavras em 1982, o ano de seu repouso aos 48 anos, e o seu significado hoje só pode ser considerado profético. Nativo do sul da Califórnia, Fr. Seraphim viu a Disneylândia como a analogia mais apropriada para o Ocidente moderno e seu principal estado, a América. Nenhum lugar encerra melhor uma sociedade de falsidade, “diversão”, e narcisismo do que o reino mágico, ele próprio o centro de um império midiático cujos tentáculos governam incansavelmente segmentos de mercado da infância à maioridade, bombardeando populações em todo o mundo com “entretenimento” instrumentado, ou seja, guerra psicológica, subversão com um sorriso. E enquanto a América batalha pelo seu destino, realizando de maneira cada vez mais perfeita os princípios revolucionários de liberdade e igualdade, então nós testemunhamos a evolução da Civilização da Disneylândia em sua expressão máxima, o Gulag digital.

Nunca antes, dizemos a nós mesmos freneticamente, fomos tão livres, enquanto a NSA e transnacionais gigantes do ramo da tecnologia constroem uma rede de monitoramento outorgando aos nossos soberanos um controle sem precedentes sobre cada aspecto da vida. Nunca fomos tão liberados e “empoderados” como agora, nós declaramos em frenesi orgiástico, enquanto toda e qualquer ligação tradicional é sistematicamente reduzida a trilhas de risadas enlatadas. Nações, tribos, culturas, devem todas desaparecer para incorporar uma nova e melhorada classe de escravos consumidores para servir melhor aos desígnios de nossos mestres oligarcas. Cada distinção humana, até mesmo entre homem e mulher, deve ser eliminada à medida que o poder sobre a hereditariedade será domínio da elite tecnocrática governante, os incipientes deuses-máquinas. 

A distopia não está em um futuro remoto e obscuro; a distopia é agora. Bem-vindo à Terra do Amanhã. Nós descendemos mais em direção à fantasia ao invés de trilhar o caminho difícil do arrependimento, escravizados a telas brilhantes que jogam com nossos desejos mais ínferos. A América Disney, o fim da história, representa o triunfo do simulacro de apocalipse de Jean Baudrillard. Uma cópia sem o original, o simulacro chega como anunciante da nossa dissolução, com o absurdo cartunesco e irreal defendido como nobre e correto. Uma falsa religião no espírito do Grande Inquisidor de Dostoiévski ganha forma perante nossos olhos – o tour misterioso do milagre pós-moderno. Sacramentos são invertidos para celebração pública, e a própria humanidade desintegra-se no reino da quantidade. Eu me tornei Pateta, o destruidor de mundos.

“Não viva de mentiras”, Aleksandr Solzhenitsyn nos aconselhou. Se aproxima rapidamente o tempo em que desafiar a falsidade da ordem estabelecida irá trazer não só sanções legais e administrativas, mas violência organizada. As mentiras desmascaradas revelam a face de seu criador, que deseja apenas morte espiritual. O homem faustiano trocou sua alma pelo reino mágico de Mamon, um parque de diversões-e-campo de concentração de alta tecnologia. A civilização da Disneylândia e suas ilusões vai durar apenas por um curto período de tempo, assim como o mundo e toda a sua glória, embora nesse meio tempo ela irá tornar-se mais bestial em sua desumanização e perseguição da verdade. Que Deus nos conceda – tanto homens como todos os povos, especialmente os americanos nesse dia – a força férrea do arrependimento, que possamos suportar até o final.